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Pintar com a alma 3 – entra a música


Esta é claramente a parte menos racional e mais intuitiva da pintura. Obtém-se pela ordenação ou desorganização das componentes que integramos no nosso quadro. Obtemos efeitos diferentes se ordenarmos ou enquadrarmos os objetos ou, pelo contrário, pelo caos da sua desordenação.
Essa (des)organização provocará no observador determinado impacto, com determinado ritmo obtido pela composição das formas e cores mais simples ou mais complexas, pela harmonia como dispomos os objetos ou itens ou formas que pintamos.


Isto é a música, e é sentida quer quando nos afastamos (disposição das cores e das formas por exemplo) quer quando nos aproximamos (produzida pela textura das pinceladas, como exemplo).

A musica da pintura, tal como a musica audível, permite-nos introduzir drama nos nossos quadros.

Para quem pense que estamos a falar de intuição apenas quando nos referimos a musicalidade da pintura, partilho convosco um conjunto muito interessante de artigos que nos ajudam a entender os fatores objetivos que poderão ajudar a introduzir a música na pintura: Dácio Salomão de Castro


Segundo Dácio Salomão de Castro, a sinestesia permite a perceção de inputs de vários sentidos em simultâneo (visual, olfativa, auditiva ou tátil). Justifica por que algumas pessoas conseguem “ouvir” o que visualizam, ou “ver” cores quando ouvem música.

(imagem obtida da internet)

Muitos pintores terão replicado tais efeitos sinestésicos nas suas obras de forma intuitiva (o “talento” inato). Dácio apresenta Wassily Kandinsky como um exemplo de pintor cuja sensibilidade foi estimulada pela sinestesia, por ter alcançado a compreensão das “relações entre cores, musicalidade e movimento”.

O autor relaciona notas musicais com cores, com base nos respetivos valores de frequência.

Como aplicar este conhecimento?

Quando me disponho a pintar algo, posso pensar em várias melodias que se podem enquadrar no tema, talvez nem escolha nenhuma em particular. O que pretendo então é fundamentalmente replicar essa atmosfera no meu quadro, não as cores correspondentes às notas exatas de determinada “melodia” e que na musica é representada pela armadura da partitura:














1.      Com o Céu posso introduzir a tonalidade:
·         Tom maior (musica mais viva): alegria (Céu de Verão), acrescento-lhe um compasso (ver componente seguinte) se lhe adicionar umas belas nuvens brancas.
·         Tom menor (musica melancólica): tristeza (Céu cinzento)
·         ou drama (acrescentam-se os tons mais fortes, amarelos ou avermelhados).

2.      Compasso: o ritmo é realçado pelo vetor movimento, escolhemos o grau de movimento partindo dos dois extremos:
·         estagnação (exemplo tons castanhos ou cores sem saturação, arvores nuas – não há crescimento –, águas paradas)
·         ou atividade (introduzo um elemento ativo, por exemplo: um rio rápido, uma cascata, um caminho que flui pela floresta, um animal em ação ou até uma composição caótica).




Tal como na música existem ainda diversos indicadores de dinâmica e expressão ao longo da partitura, na pintura, não apenas as cores mas ainda as formas podem ser usados como indicadores:


- Os objetos que vou dispondo:

·         poderá realçar-se a clareza (mesmo nos objetos mais distantes vemos arvores ou montanhas com bastante claridade ainda que respeitando os fatores de profundidade – por exemplo menor detalhe).
  


·         ou o mistério (muita neblina ou indefinição dos contornos).



- A textura: os objetos mais próximos e que pretendemos que o atraia observador para ver de perto, possuem texturas belas e sugestivas obtidas pelas pinceladas ou pelo uso da espátula (a relva, a casca das árvores mais próximas).

- O enquadramento: a introdução de um conjunto de objetos próximos que enquadram os temas mais longínquos: uma árvore, uma rocha… permitem ainda ao pintor usar a textura de forma harmónica ou caótica (de acordo com o efeito musical pretendido) quando a pintura é observada de perto.

- A harmonia da melodia é a harmonia do conjunto: nada mais que a coerência de todos os componentes aqui enumerados no sentido da atmosfera.


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