Esta é claramente a parte menos racional e mais
intuitiva da pintura. Obtém-se pela ordenação ou desorganização das componentes
que integramos no nosso quadro. Obtemos efeitos diferentes se ordenarmos ou
enquadrarmos os objetos ou, pelo contrário, pelo caos da sua desordenação.
Essa (des)organização provocará
no observador determinado impacto, com determinado ritmo obtido pela composição
das formas e cores mais simples ou mais complexas, pela harmonia como dispomos
os objetos ou itens ou formas que pintamos.
Isto é a música, e é sentida quer
quando nos afastamos (disposição das cores e das formas por exemplo) quer
quando nos aproximamos (produzida pela textura das pinceladas, como exemplo).
A musica da pintura, tal como a
musica audível, permite-nos introduzir drama nos nossos quadros.
Segundo Dácio Salomão de Castro, a sinestesia permite a perceção de inputs de vários sentidos em simultâneo (visual,
olfativa, auditiva ou tátil). Justifica por que algumas pessoas conseguem “ouvir”
o que visualizam, ou “ver” cores quando ouvem música.
(imagem obtida da internet)
Muitos pintores terão replicado tais efeitos sinestésicos nas suas obras
de forma intuitiva (o “talento” inato). Dácio apresenta Wassily Kandinsky como um exemplo de pintor cuja sensibilidade
foi estimulada pela sinestesia, por ter alcançado a compreensão das “relações
entre cores, musicalidade e movimento”.
O autor relaciona notas musicais com cores, com base nos respetivos
valores de frequência.
Como aplicar este conhecimento?
Quando me disponho a pintar algo, posso pensar em várias melodias que se
podem enquadrar no tema, talvez nem escolha nenhuma em particular. O que
pretendo então é fundamentalmente replicar essa atmosfera no meu quadro, não as
cores correspondentes às notas exatas de determinada “melodia” e que na musica
é representada pela armadura da partitura:
1.
Com
o Céu posso introduzir a tonalidade:
·
Tom
maior (musica mais viva): alegria (Céu de Verão), acrescento-lhe um compasso (ver
componente seguinte) se lhe adicionar umas belas nuvens brancas.
·
Tom
menor (musica melancólica): tristeza (Céu cinzento)
·
ou
drama (acrescentam-se os tons mais fortes, amarelos ou avermelhados).
2.
Compasso: o ritmo é
realçado pelo vetor movimento, escolhemos o grau de movimento partindo dos dois
extremos:
·
estagnação
(exemplo tons castanhos ou cores sem saturação, arvores nuas – não há
crescimento –, águas paradas)
·
ou
atividade (introduzo um elemento ativo, por exemplo: um rio rápido, uma
cascata, um caminho que flui pela floresta, um animal em ação ou até uma composição
caótica).
Tal como na música existem ainda diversos
indicadores de dinâmica e expressão ao longo da partitura, na pintura, não
apenas as cores mas ainda as formas podem ser usados como indicadores:
- Os objetos que vou dispondo:
·
poderá
realçar-se a clareza (mesmo nos objetos mais distantes vemos arvores ou
montanhas com bastante claridade ainda que respeitando os fatores de
profundidade – por exemplo menor detalhe).
·
ou
o mistério (muita neblina ou indefinição dos contornos).
- A textura: os objetos mais
próximos e que pretendemos que o atraia observador para ver de perto, possuem
texturas belas e sugestivas obtidas pelas pinceladas ou pelo uso da espátula (a
relva, a casca das árvores mais próximas).
- O enquadramento: a introdução
de um conjunto de objetos próximos que enquadram os temas mais longínquos: uma
árvore, uma rocha… permitem ainda ao pintor usar a textura de forma harmónica
ou caótica (de acordo com o efeito musical pretendido) quando a pintura é
observada de perto.
- A harmonia da melodia é a
harmonia do conjunto: nada mais que a coerência de todos os componentes aqui
enumerados no sentido da atmosfera.
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